“Desenvolvimento sustentável” tornou-se um tipo de chave mestra para vender mercadorias, causas ou dogmas. Tornou-se, principalmente, um dispositivo para ocultar práticas predatórias e violações dos direitos humanos. A cadeia produtiva das grandes multinacionais do setor de alimentos mostra isso. São grandes financiadoras do desmatamento e do trabalho infantil e escravo.
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A expressão é usada sem pudores. Uma pesquisa feita em cinco grandes cadeias de varejo do país, durante quatro anos, mostrou que, nesse período, a quantidade de produtos com rótulos ligados a apelos ambientais cresceu 343% (GOERG, 2014).
Dos 1.085 rótulos com apelos ambientais encontrados nas redes varejistas, nos setores de higiene, limpeza e cosméticos, apenas 5% têm algum grau de confiabilidade no apelo ecológico, apresentando informações certificadas ou auditadas por organização licenciadas e confiáveis. Os demais 95% dos produtos com apelos ambientais correspondem a autodeclarações sem condições de serem comprovadas, “dado que caminha na contramão em relação às recomendações para uma comunicação efetiva acerca de produtos sustentáveis” (p. 08 do estudo mencioado).
Segundo a pesquisa, os 95% dos produtos com apelos inconsistentes apresentam problemas como: falta de indicações acessíveis para comprovar as afirmações; declarações vagas; custo ambiental camuflado, valorizando uma característica e desviando atenção de questões mais relevantes e ambientalmente predatórias; falsidade; irrelevância; mentira.
É um cenário “idealizado”, segundo o autor, “utilizando declarações ambientais para confundir o consumidor que busca opções ambientalmente preferíveis” (p. 01). Desde sua disseminação, após o relatório Nosso Futuro Comum,em 1987, “sustentabilidade” tornou-se a chave para acabar com os problemas sociais, aproximar a humanidade de Deus, salvar os índios, levar saúde e educação às periferias, enfrentar o consumismo.
Serve para vender mercadorias, cigarros, automóveis, bebidas alcoólicas, apartamentos, celulares, roupas, shampoos, combustíveis, joias, agrotóxicos, mísseis balísticos e submarinos militares. Tornou-se um dispositivo multiuso, disponível para ser encaixado em qualquer cenário, mediante malabarismos discursivos elaborados em torno de expressões como “causa”, “ética”, “preocupação verdadeira”, “responsabilidade socioambiental”.
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REFERÊNCIAS
GOERG, Paula et al. Greenwashing no Brasil: um estudo sobre os apelos ambientais nos rótulos dos produtos. In: VII Encontro Nacional de Estudos do Consumo. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 24 – 26, set. 2014.